Raio X – O vestiário versus Wilson

No dia seguinte da vitória histórica contra os Broncos, na estreia da do Seattle Sehawks na temporada de 2022 da NFL, Pete Carroll concedeu uma entrevista para o podcast Seattle Sports no youtube. Ao ser perguntado sobre a energia que os Seahawks colocaram nessa partida, o treinador deu uma declaração que repercutiu nacionalmente:

“Eu não preciso da validação, eu só queria ganhar, ganhar por vários motivos, talvez mais do que qualquer coisa, eu queria representar caras que estavam aqui antes, isso significou muito pra eles. Foi muito emocionante poder abraçá-los e olhar no seus olhos. Foi muito significativo, eles realmente que queriam, nós sabíamos que estávamos jogando por muito mais do que futebol americano comum.”

Essa palavras reacenderam um antigo burburinho sobre o racha no elenco durante a época de ouro da Legion of Boom. Nesse texto nos propomos a analisar essa situação.

Análise Denver Broncos 16 x 17 Seattle Seahawks

Construindo um time e uma cultura vencedora.

Hoje na comunidade da NFL existe a discussão: se deve começar a montagem do elenco pelo Quarterback ou pelas peças ao seu redor? Bom quando foi contrato pelo Seahawks, Pete Carroll escolheu a segunda opção. Em 2010 via draft chegaram Russel Okung, Earl Thomas, Golden Tate e Kam Chancellor. No ano seguinte, mais adições importantes: KJ Wright, Richard Sherman, Byron Maxwell, Doug Baldwin e o futuro MVP do Super Bowl, Malcon Smith. Apenas 2012 Wilson foi draftado, escolha de terceira rodada, foi nomeado titular após vencer a disputa contra Matt Flynn, esse que havia sido contratado a peso de ouro.

Se você torce para o Seattle Seahawks, com certeza já ouviu Pete Carroll repetindo o seu mantra “Always compete”, ou “Sempre competindo”.  Depois de passar 9 anos como um treinador de enorme sucesso no futebol americano universitário, Pete transportou para a NFL a cultura de treinos intensos e extremamente competitivos, deixando claro que não havia vaga garantida para ninguém no time. Esse modo de ser caiu como uma luva com os jogadores na época. Personalidades intensas, lideres natos e acima e tudo excelentes jogadores, tudo isso ajudou a formar um dos melhores times da história, mas…..

Dois pesos duas medidas:

Em meio a esse ambiente ultra competitivo Carroll e Schneider viam no jovem Russell Wilson um potencial adormecido enorme, e bem, queriam preservá-lo para o bem do futuro da franquia. Vou fazer a seguinte analogia, imagine que você leitor está trabalhando junto com um grupo em uma empresa. Vocês trabalham duro e tem um desempenho excelente, quando de repente surge um novo funcionário indicado pelo chefe, na visão do seu pessoal ele apenas está fazendo o básico em quanto vocês se matam de trabalhar para manter a empresa funcionado e principal, quando as coisas saem errado é seu grupo que é cobrado e o preferido do chefe passa a limpo dos sermões.

Como você se sentiria no seu ambiente de trabalho?

Frustrado? Com raiva do protegido?

Foi exatamente que alguns jogadores da defesa se sentiram sobre o tratamento especial dado a Russell Wilson por Pete Carroll.

Fontes já reportaram que durante um treino Richard Sherman interceptou Russsell Wilson, a pick em si não foi o empecilho, mas sim o fato de Sherm ter jogado a bola com força contra o Quarterback, depois do ocorrido Carroll teria reunido os líderes do time e pessoalmente pedido para ele pegar leve com Russ, aí o problema já havia sido implantado, ou é criado um ambiente competitivo e intenso para todos ou não cria para ninguém não há como ter um meio termo, isso só irá gerar mais discordância.

Ao ser questionado, no mesmo podcast que Pete deu a declaração que iniciou esse texto, sobre se Wilson tinha algum tipo de tratamento especial KJ Wright respondeu:

“Infelizmente isso foi outra coisa que nos dividiu, tiveram alguns jogos que o Russell não foi bem. O treinador Carroll se reunia com todos as Segundas-feiras, falava sobre o jogo e as vezes ele destruía a defesa, dizia que tínhamos que jogar melhor, precisávamos conseguir mais turnovers e do outro lado nos estávamos olhando e pensando; Treinador ele lançou três interceptações o que mais o senhor que de nós?”

Ele continua falando sobre com o  jogadores da defesa se sentiam;

“Eu via que ele (Pete) não queria colocar muita pressão sobre um QB tão jovem. Tinham cara que vinham com o pensamento ele é jovem, o deixe crescer, você vai lidar conosco desse jeito? Você tem que lidar com ele desse mesmo jeito”

Ainda haviam pequenas fofocas correndo pelos corredores do VMAC, Wilson tinha um lugar exclusivo para se recuperar depois dos jogos, os jogadores de defesa tinham medo de falar certas coisas perto dele, pois tinham medo de que o QB levasse as reclamações diretamente para Carroll, segundo algumas fontes isso já havia ocorrido antes.

Essa separação era vista até em coisas simples. Por exemplo, Richard Sherman casou, vários jogadores do time estavam lá, mas Wilson sequer foi convidado. Outras reuniões partilhavam do mesmo princípio, Wilson vivia a parte dos seus companheiros, no seu próprio mundo. Numa situação análoga ao de Draft Day, onde se indagam porque o QB1 da classe não teve nenhum companheiro na sua festa de aniversário. Até caras do ataque como Doug Baldwin não eram o maior fã de Wilson e comemoram a vitória com sarcasmo contra o antigo QB.

Existia um rumor que os recebedores ficavam chateados com Wilson em algumas jogadas. Eles treinavam, se dedicavam, aprendiam o playbook e na primeira oportunidade que tinha, Wilson improvisava e quebrava todo o script. Até hoje não se confirmou o WR, mas em tese, ficou a dúvida entre Doug Baldwin e Sidney Rice.

Na final da NFC em 2014 Wilson foi o convidado para o pódio, mesmo lançando 5 interceptações no jogo, lembrando que a defesa limitou o MVP Aaron Rodgers para apenas 178 jardas, além de interceptá-lo duas vezes. Na reuniões da semana seguinte, foi o QB que levou todo o crédito.

O fim da L.O.B e a mudança de foco

Com a derrota no Super Bowl XLIX, alguns jogadores realmente acreditaram que os Seahwaks resolveram passar naquele fatídico lance para tornar Russell Wilson MVP do jogo, na cabeça deles, a comissão técnica escolheu o glória de um jogador a vencer como time.

O tempo passou e, conscientemente ou não, a diretoria fez movimentos onde ficou claro quem seria a cara da franquia nos próximos anos. Sherman foi cortado, Thomas não teve seu contrato renovado, Kam e Avrill se aposentaram. Wilson se desenvolveu como um grande QB dentro da liga, ganhou mais poder dentro do time. Eventualmente Pete começou a cobrá-lo como os outros jogadores e o tirou da classificam de intocável, na liga houveram diversos rumores dizendo que os Seahawks pensavam em trocá-lo, mas isso não se concretizou.

A partir daqui você já sabe como essa história terminou.

Conclusão:

Depois de ler bastante da relação entre Pete Russell e os outros jogadores, chego a conclusão que a declaração polêmica do treinador e a energia que os Seahawks entraram contra  os Broncos, foi imposta por um pai que fez de tudo para proteger um filho, o criou e o desenvolveu, mas que o viu crescer e pedir pra sair de casa depois de tudo que ele o pai fez por ele. Pete Carroll não é santo, mas eu realmente acredito que ele se sinta assim em relação ao seu mais querido pupilo.

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