Há mais ou menos um mês soltamos uma pesquisa para conhecer e ouvir mais as meninas e mulheres que fazem parte desse universo do futebol americano.
A partir das respostas das girls constatamos alguns contrastes e opiniões que valem a pena serem compartilhadas. Desde já, agradecemos a todas que participaram e colaboraram conosco!
Esse texto tá saindo em comemoração ao mês que se comemora o dia internacional da mulher como uma reflexão necessária para combater os diversos tipos de constrangimentos sofridos pelas mulheres. Aqui não é nosso lugar de fala, os escritores do blog são homens e jamais poderão falar com propriedade sobre o que vocês mulheres sofrem ou passam na pele. Mas é possível trazer a tona uma reflexão sobre o cenário atual da sociedade.
Créditos da imagem: Vavel.com
Quando fizemos a pesquisa basicamente já sabíamos o que poderia vir, mas a constatação de alguns fatos são realmente bem tristes.
Cerca de 20% das mulheres relataram que já sofreram discriminações por gostar do futebol americano. Infelizmente isso retrata simplesmente como a mulher é tratada dentro da sociedade brasileira.
Se fossemos relatar aqui a quantidade de abusos e sofrimentos que a mulher recebe só pelo simples fato de ser mulher… não teríamos palavras suficientes para calcular. De palavras e relacionamentos abusivos à agressões e feminicídios, é muito difícil ser você mesma e andar com tranquilidade na rua.
Quando passamos para o lado esportivo é que a coisa fica um tanto quanto mais exposta, pois na cabeça de determinados homens, é impensável achar que uma mulher entende de um esporte que ele tanto gosta ou que entende muito mais… principalmente num esporte dito “para homens”.
Em uma das nossas indagações na pesquisa, questionamos qual tipo de discriminação elas já tinham sofrido. “Sempre dizem que não é um esporte para meninas, ainda mais pras que praticam! Dizem que somos o “sexo frágil”, que podemos nos machucar feio ou que não temos porte físico para jogar“, falou uma das que respondeu. Que sexo frágil é esse? Ok, sabemos que existem diferenças de anatomia entre os dois sexos, proporcionando, em tese, o homem ter a maior capacidade de força… mas não exclui as mulheres de também fazer. Mulheres suportam dores de parto e dores de cólica que, nós homens, certamente não aguentaríamos. Sem falar que elas vêm aguentando TODOS os tipos de violência física, sexual e moral desde os tempos antigos e ainda continuam firmes e fortes na busca do espaço merecido. ONDE ESTÁ A FRAGILIDADE?
“Me julgam porque futebol americano já é uma coisa diferente pra se gostar e o fato de ser mulher também influencia… Como assim você gosta de futebol americano? Nunca vi alguém gostar, ainda mais mulher“;
“O mais comum é a cara do desdém que homens conhecedores do jogo faz quando falo de aspectos mais estratégicos do jogo. Como se eu não fosse capaz de conhecer o esporte.”
“Geralmente homens não aceitam o fato de sabermos as jogadas e coisas do tipo.”
“Homens se surpreenderam e ficaram tentando me ensinar coisas que eu já sabia, por achar que eu não entendia nada.”
“Sempre em ligas de fantasy, que quase sempre sou a única mulher, não ouvem o que eu falo, ignora informação e claro desdenham do time montado!!!”
Aqui é o retrato da sociedade ao duvidar da mulher como ser inteligente e racional. Retrato de um machismo perpetuado de geração em geração, onde a mulher não tem a capacidade de entender coisas difíceis ou mais complicadas, afinal elas só servem para ficar em casa e cuidar do lar.
Essa linha de pensamento errôneo ocasiona as diversas atrocidades espalhadas pelo Brasil, como espancamentos, torturas, tentativas de homicídio e feminícidio. Homens que tratam-as como propriedade e objeto de uso pessoal.
Existem incontáveis mulheres como essas que responderam que sabem demais da estratégia do jogo de FA, dos tipos de jogadas e das possibilidades de rotas e etc. Tá duvidando? Basta prestar atenção em alguns perfis no instagram, como do NFL de Bolsa, NFL de menina e NFL da Luluzinha. Garotas que simplesmente dão show em análises detalhadas do futebol americano.
FALTA MAIS ESPAÇO PARA MULHER NO UNIVERSO DO FUTEBOL AMERICANO?
80% acham que falta espaço para o desenvolvimento da mulher no futebol americano. O que de fato é uma constatação fática. Se olharmos para o principal canal de transmissão da NFL no Brasil, só temos uma comentarista, que foi contratada, salvo engano há menos de 2 anos.
Gradativamente isso vai mudando e esperamos que assim continue. Essa semana fomos tivemos a grata notícia de ver duas treinadores sendo contratadas pelo Tampa Bay Buccaneers, se tornando a primeira franquia da história a ter duas treinadoras, são elas Maral Javadufar e Lori Locust.
Muitas sugestões para a maior inclusão das mulheres no universo FA foram enviadas e podemos concatenar que representatividade importa. A inclusão de mulheres nas transmissões, blogs e páginas é uma das sugestões que mais aparecem. Como também uma maior popularização do esporte nas escolas e nos meios de comunicação, como rádio, colunas de jornais e TV aberta.
Também aparece nas sugestões o aumento de números de campeonatos femininos, uma facilitação para compra de jerseys e maior acolhimento das profissionais nos times.
Tem uma sugestão que praticamente liquidou o assunto:
“Para que possamos ter uma mudança significativa nas ligas em si, é necessário que se faça essa inclusão na própria torcida. Esse espaço pode (e deve) ser dado através da mobilização de grupos de discussão voltado às mulheres (como o NFL de Bolsa, o Luluzinha, dentre outros), porque esse espaço dá mais abertura para que se haja uma discussão de fato e não uma tentativa velada de machismo, em que o homem acha que entende mais sobre o esporte do que a mulher apenas por ser homem. Além disso, a venda de produtos femininos é fundamental para que as torcedores se sintam representadas e inclusas no ato de torcer. O espaço na imprensa, seja por meio de blogs, vlogs ou pela tv, se mostra significativo no processo de inclusão e de quebra de paradigmas, tendo em vista que um lugar de fala equiparado entre homens e mulheres colabora diretamente na luta contra o machismo.”
Para finalizar, tem alguns dados bem interessantes..
A palavra que melhor descreveu o sentimento das mulheres em relação ao futebol americano foi “emocionante“. Sem dúvidas, não falta emoção nas partidas, principalmente nos playoffs!
A posição mais escolhida caso fossem jogar (e aquelas que já jogam) seria ou running back ou quarterback no ataque e linebacker na defesa.
Cerca de 50% das mulheres escolheram a franquia por amor à primeira vista, se apaixonando pelo time desde logo e cerca de 70% conheceu o futebol americano assistindo na TV ou os amigos apresentando o esporte.
É isso! Go Hawks!