Podemos confiar em Shane Waldron?

O primeiro ano de Shane Waldron foi muito inconstante. Sofremos também por ter sido o pior ano da carreira de Russell Wilson, inclusive, a primeira vez que ele perdeu jogos na vida por lesão e voltando de forma apressada, nunca mais foi o mesmo.

Como foi o primeiro ano de Shane Waldron?

Raio-X: As novidades de Shane Waldron

É de se salientar que Waldron nunca foi Coordenador Ofensivo antes, então, era de se esperar que ele precisasse de alguma adaptação e que víssemos alguma oscilação no seu trabalho. É basicamente o que acontece com um novato quando chega na NFL.

Vamos lá!

Trabalho com Geno Smith

Eu costumo dizer que conseguimos descobrir os melhores OCs com QBs ruins. Não vamos entrar na discussão filosófica sobre a qualidade de Geno, mas o fato é que Waldron (junto com Dave Canales, ex-treinador de QBs) fizeram com que ele ganhasse o Comeback Player of The Year e ter jogado uma primeira metade de ano em nível de MVP garantido.

Eu tenho essa teoria sobre os OCs, porque por vezes o talento do QB fora de série, esconde um erro de desenho do coordenador. Fazer caras como Jimmy G, Jared Goff chegarem longe, merecem méritos demais. Apesar do ano com oscilações, ainda é de se elogiar muito o que Waldron fez.

Números

7º melhor em passes completos (399);

4º melhor em TDs passados (30);

4º melhor rating (100);

5º pior em jardas perdidas em sacks (348);

5º melhor em jardas por carregada (4.8);

5º com mais jogadas corridas de 20+ jardas (18);

7º pior em 3ª descidas (76 de 201);

Maximizou o grupo

Outro ponto fundamental para um bom OC é saber trabalhar com as peças que tem. Por exemplo, no futebol da bola redonda, se você só tem atacantes baixos, você vai montar o seu plano de jogo com bola aérea o tempo inteiro?

Se você não for KNJ ou Clint Hutt, provavelmente não.

Waldron pareceu se debruçar pelas forças e fraquezas do elenco e montou um plano de jogo bastante diferente, utilizando bem mais os TEs. Inclusive, para esconder a falta de um WR3 real, necessidade que o ataque tem há anos.

Como os Tight Ends vão ser usados no esquema de Waldron?

Os TEs dos Seahawks nesta temporada (Fant/Dissly/Parkinson/Mabry): 104 recepções para 1.097 jardas e 10 touchdowns. Este é o maior número de recepções que qualquer grupo Seahawks TE já teve em uma temporada, e é claramente o grupo TE com melhor desempenho geral.

De acordo com as estatísticas NGS, apenas os Titans e Saints usaram mais pacotes de 3 tight ends do que os Seahawks durante a temporada de 2022.

Playbook 64: Os pacotes ofensivos (Personnel)

A arma letal

https://twitter.com/i/status/1590823880465461253

Esse play action com passe para TE foi uma jogada que ele chamou com muita frequência. Ameaça do jogo corrido indo para o play action e você tem duas rotas do lado esquerdo cruzando o campo. Uma mais profunda para chamar atenção da defesa (que chamamos de clearout) e outra mais curta para um TE onde ele tinha a chance de conquistar boas jardas após a recepção.

Claro que ele adicionou alguns elementos interessantes e formações diferentes. No primeiro clipe a gente vê Noah Fant vindo em motion para o outro lado do campo, chamando mais atenção para o o jogo corrido. Contra os Lions ele chama o motion com DK Metcalf e usa 3 TEs na formação dessa vez. Já contra os Chargers ele coloca o jogador em motion como opção da rota profunda. Bom trabalho de Waldron.

Pós Jogo Seattle Seahawks 48 x 45 Detroit Lions

Detalhe que no jogo contra os Lions ele chamou essa jogada basicamente umas 3 vezes e os Lions não conseguiram defender. Os torcedores não ficaram muito contentes com isso.

A Versatilidade

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Seattle jogou muito com 3 TEs como falamos, mas também, jogou muito com 2 TEs. Muito disso pelo fato de não termos um WR3, assim como supracitado. Mas ele não usou apenas os TEs para um jogo corrido, tê-los em campo ajudou muito o play action e ele também variou muito onde posicionava os jogadores. Os dois TEs de um lado só, um de cada lado, um junto a linha e o outo no slot, os dois no backfield como FB.

Ele fez o que os OCs bons tem que fazer, manter os times advinhando.

Um pouco de Sean McVay

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Para quem não conhece muito Waldron, ele foi coordenador de jogo aéreo ofensivo dos Rams, depois de passar algum tempo junto com McVay em outras funções posicionais. Era de se esperar que ele trouxesse alguns elementos desse ataque para Seattle. O play action e os motions para criar espaços foram um desses elemenos que ele trouxe em suas páginas de anotações dos Rams.

Shane Waldron é o novo Coordenador Ofensivo de Seattle!

[Video] Tapes Don’t Lie S01E01: Waldronalizou o ataque do Seahawks!

Os maiores erros de Waldron

Claro que apesar do bom ano ainda existem pontos para melhorar no trabalho do OC segundo-anista. O maior deles, é abandonar seus conceitos.

Explico.

Seu primeiro jogo como OC, ele abriu o livro com corridas de WR, espalhou os alvos, atacou áreas diferentes do campo, play action, motions, jogo corrido equilibrado. Chega na semana 2, ele simplesmente esqueceu tudo isso e parou de chamar. Os melhores momentos do ataque dos Seahawks foram quando ele justamente voltou as suas origens.

Raio-X: Dissecando os erros de Shane Waldron na semana 2

Plano de jogo específicos

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Já dissemos que esse é apenas o segundo ano de Waldron como OC. Algo que ele precisa evoluir é seus ajustes durante o jogo, uma vez que parece que quando o time começa mal, demora muito para se achar na partida. O outro é montar plano de jogo para atacar algumas áreas específicas.

Pós Jogo Seattle Seahawks 10 x 24 Kansas City Chiefs

Tomando o jogo contra os Chiefs como exemplo. A parte mais vulnerável da defesa seria as costas do LB, justamente uma boa opção para se atacar com TEs, algo que Seattle fez bem o ano inteiro. Ele chamou pouquíssimas jogadas nessa partida e o time só mostrou alguma coisa quando o jogo corrido entrou.

https://twitter.com/cmikesspinmove/status/1639840499766026242

E ele tem talento para tal. Contra os Rams, por exemplo, ele explorou muito a capacidade de cobertura de Bobby Wagner, que infelizmente não é mais a mesma dos anos dourados do LB. Várias vezes ele forçou Wagner a ter que escolher entre rotas cruzando o campo, e saímos até com um TD nessa jogada, além de um first down para posicionar o FG da vitória na última semana.

A maldição do Screen

https://twitter.com/i/status/1607479868672933889

Algo que ele não conseguiu consertar foi o fato dos screen não funcionarem em Seattle. Ele tentou screens mais horizontais, acho que também precisaria variar um pouco mais nesse sentido.

Playbook 57: Screen Game

Professor Pardal

“Na linguagem comum, o apelido da personagem – Professor Pardal – passou a identificar todo sujeito com algum talento para inventar alguma coisa ou com alguma habilidade para contornar um problema qualquer.” 

Dentro do esporte em geral, passou a denominar quando os técnicos inventam algo desnecessariamente para resolver um problema. Seu center machuca e você pensa em colocar um TE para aproveitar a habilidade atlética (não que isso aconteça, só um exemplo), ao invés de simplesmente substituir pelo center 2 (mas se o center 2 for o Kyle Fuller, até que dá vontade de inventar mesmo).

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Esse pacote com 4 RBs é até interessante no jogo corrido, mas colocar o Dallas para passar, não é algo que ache ideal. Ele deixou de ser QB em Miami por um motivo…

Detalhamento das jogadas criativas

Elenquei aqui algumas das jogadas que mais gostei do desenho do Shane Waldron.

https://twitter.com/i/status/1577732351525851136

Enfrentávamos uma terceira bem longa. Waldron chama uma formação 3×1 (3 recebedores de um lado e 1 de outro). Parece que ele vai chamar rotas que alcancem a primeira descida do lado dos 3 recebedores, mas isso é tudo uma armadilha. Do outro lado, ele pede para DK correr uma rota cruzando o campo que o deixaria atrás desses recebedores que iriam bloquear o caminho para ele. Seria lindo, se tivesse dado certo, mas DK dropou.

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Aqui ele chama uma graçola, com Geno Smith fingindo mudar a jogada e o snap indo direto para Walker. Ele chamou isso com certa frequência e deu bem certo.

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Ele pareceu gostar de usar o potencial de corredor do seu QB (seria um indício para o futuro de Seattle na posição?). Na jogada acima, precisando da primeira descida, ele carrega um lado do campo com recebedores, manda o RB para o lado esquerdo, tentando simular um screen e coloca Smith para correr uma espécie de toss, com seu guard e tackle funcionando como lead blockers.

 

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Formação com dois RBs, Walker vem em motion para correr um jet sweep, como já havia feito várias vezes na temporada. Na verdade, é mais um play action de Seattle que tem duas opções, uma curta e uma longa. Jogada semelhante a dos TEs que falamos no começo do artigo.

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Os dois jogadores da defesa dos Giants supracitados compram a corrida de Walker e se posicionam de forma que os bloqueios entram com facilidade. O meio do campo fica livre para um shovel pass que quase chega na endzone.

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Quarta para um, ele coloca Lockett de RB e Walker de WR. Com a blitz e marcação individual, Lockett tem um bom release correndo para o lado contrário dos outros 3 recebedores e é o suficiente para a primeira descida tranquila.

Veredito

Esse ano ainda será um desafio para Waldron. Agora a NFL já está mais preparada para seu estilo de jogo, conhece seu playbook. Ele vai precisar adicionar coisas novas, bem como conseguir manter esse ataque de forma constante, diferente do meio de temporada que a unidade sofreu muito, e onde justamente perdemos partidas possíveis de ganhar como Bucs, Raiders e Panthers.

Forever a 12s

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