Se você começou a assistir os Seahawks nos últimos 10 anos, muito provavelmente seu maior ídolo do time chama-se Russell Wilson. Wilson para mim sempre foi genial e a história de superação dele até chegar a ser um dos melhores QBs da liga é sensacional. Porém nem toda história termina em “felizes para sempre”. A relação Wilson-Seahawks terminou de uma forma até esperada, porém difícil de digerir. Nas últimas 3 temporadas, vimos uma relação entre Wilson e os Seahawks se desgastando muito, com vários rumores de troca, de que Wilson queria sair, declarações polêmicas, boatos, até que chegou em um momento que acabou. No início do ano aconteceu o divórcio: Wilson é trocado. E não é trocado para qualquer time: Wilson foi para o Denver Broncos… Para dar requintes de crueldade a esse movimento, a NFL coloca o primeiro jogo da temporada um Monday Night Football entre Broncos e Seahawks em Seattle

O começo na AFC West

A rivalidade entre Seahawks e Broncos não começou com a troca do Wilson ou com o Super Bowl 48. A história começa lá na segunda temporada dos Seahawks na NFL, em 1977. Na segunda temporada dos Seahawks na NFL, o time foi movido da NFC West para a AFC Oeste para jogar anualmente contra Broncos, Raiders, Chargers e Chiefs. A partir daí começa a rivalidade que cada ganha capítulos mais interessantes a cada dia.

Naturalmente quando um time joga na mesma divisão que outro, existe uma rivalidade intrínseca, mas a rivalidade entre os Broncos e os Seahawks ganha um tempero especial em 1983. Naquele ano, o time dos Seahawks estava praticamente imbatível. Sob o comando de Dave Krieg, Curt Warner, Kenny Easley e Steve Largent o time chegou pela primeira vez na sua história nos playoffs. Como a história não poderia ser escrita de melhor forma, quis o destino colocar os Broncos na frente dos Seahawks naqueles playoffs.

A temporada 1983

Antes de começar a temporada de 1983, existia muito barulho no draft por causa de um calouro da universidade de Stanford. John Elway até hoje é citado como um dos 3 melhores QBs vindo do college para a NFL e naquele ano era a escolha certa do Baltimore Colts. Porém, antes do Draft acontecer, Elway e seu pai disseram que não iriam jogar na costa leste e nem com o head coach dos Colts na época Frank Kush. Posto contra a parede, os Colts foram obrigados a renunciar à sua primeira escolha geral e aceitar uma troca com os Broncos.

Os Seahawks também não fizeram feio na hora de escolher no draft e escolheram o principal RB daquela época: Curt Warner. Vale lembrar que em 1983 running back era uma posição de muito valor e os times pagavam caro para se ter um “franchise running back”.

A AFC daquele ano foi muito disputada com brigas muito parelhas entre os candidatos aos playoffs. Durante toda a temporada Bills, Seahawks, Broncos e Browns lutaram disputaram de forma parelha as vagas no Wild Card. As disputas entre Seahawks e Broncos na temporada regular resultaram em uma vitória para cada lado e as vagas de Wild Card foram somente definidas na semana 16 com os Seahawks sendo a Seed 1 e os Broncos a Seed 2, ambos com record 9-7.

Durante os primeiros jogos como titular, Elway sofreu muito na transição e foi colocado no banco no lugar do veterano Steve DeBerg que não saiu da titularidade até os playoffs quando enfrentou os Seahawks. DeBerg então viu o poder aterrorizante da primeira Legion of Boom e os Broncos foram atropelados pelos Seahawks por 31-7. Elway até entrou no último quarto para ser interceptado por Gregg Johnson. A sequência dos playoffs os Seahawks foram até a Florida enfrentar os Dolphins liderados por um outro calouro, seu nome era Dan Marino. Seattle só foi parado naquele ano pelos Raiders, que vieram a ser os campeões daquele ano.

A melhor jogada de Largent

Steve Largent, o mestre Yoda!

Steve Largent é um dos melhores WR da história da NFL e o melhor da história dos Seahawks. O Yoda, como era apelidado, pois podia usar a “força” e fazer qualquer recepção, foi o primeiro WR da NFL a conseguir 100 TDs na carreira e quando se aposentou em 1989 detinha vários recordes na NFL como de maior número de jardas na carreira, maior número de recepções e maior número de recepções para TD. Porém, segundo o próprio Largent, o melhor lance da sua carreira não foi uma recepção, mas sim um fumble forçado e recuperado por ele contra os Broncos em 1987.

Semana 1 de 1987, os Seahawks foram a Denver para enfrentar os Broncos. Em certo ponto da partida, Dave Krieg faz um passe na direção de Largent que faz a recepção e na sequência um lance criminoso do Safety dos Broncos Mike Harden. Mike Harden, sem nem olhar para a bola, vai com o antebraço no capacete de Largent que apaga sem antes tocar no chão. A pancada foi tão criminosa que Largent perdeu dois dentes. Um lance assustador mesmo para uma época em que concussão não era levado a sério na NFL.

Largent fica fora do jogo e é colocado na IR.

Mike Harden levels Largent week 1.
Steve got his revenge in the rematch when Harden intercepted a pass and Largent gets payback.
One of the biggest hits by a WR ever.#Seahawks pic.twitter.com/8nXvkeDCav00

— Old Time Football 🏈 (@Ol_TimeFootball) September 28, 2021

14 semanas depois, os Broncos vão até Seattle. Em certo momento da partida, Dave Krieg lança uma bola na direção da Endzone e é interceptado, justamente, por Mike Harden. O lance que parecia ser um fim trágico se torna o lance mais icônico do maior jogador da história dos Seahawks. Ao ver a interceptação, Largent parte para direção de Harden e o atinge em um tackle digno dos grandes defensores. No tackle nota-se a sede de vingança de Largent que faz o jogador dos Broncos sair do chão e soltar a bola. Largent que incrivelmente ainda estava de pé recupera o fumble e garante novamente a posse para os Seahawks, coroando o maior de todos os tempos com o lance mais incrível de sua carreira.

Super Bowl XLVIII

A voz do silêncio: Uma história inspiradora para além da conquista do SuperBowl!

A segunda vez que os Seahawks enfrentaram os Broncos em playoffs foi justamente no Super Bowl XLVIII, foi provavelmente o grande motivo que a maioria dos torcedores brasileiros dos Seahawks vieram a torcer para o time. Em 2013 Peyton Manning começava seu segundo ano com o Denver Broncos. E com um ataque dos Broncos que era considerado por muitos um dos ataques mais explosivos de toda a história da NFL.

Para se ter uma noção da intensidade daquele ataque a média de pontos por jogo foi de 37,9. Manning foi o MVP com 5477 jardas e 55 TDs na temporada. Foi a maior temporada de um QB na história da NFL em produtividade. Era impossível parar Peyton Manning, Demarius Thomas, Knowshon Moreno, Wes Welker, Eric Decker e Julius Thomas.

Porém há um ditado que diz que grandes ataques ganham jogos e grandes defesas ganham campeonatos. E vindo desse princípio, a melhor defesa da história da NFL, carinhosamente chamada Legion of Boom fez valer a frase emblemática e estragou a festa do Sheriff limitando o ataque impossível de se parar a míseros 8 pontos. Enquanto o ataque de Percy Harvin, Marshawn Lynch e Russell Wilson acabou com a brincadeira fechando o jogo com 43-8.

Passado, presente e futuro…

O retrospecto entre Seahawks e Broncos possui números mais favoráveis aos Broncos que lidera a com 35 vitórias contra 21 dos Hawks. Muito disso graças aos bons anos que os Broncos tiveram com Elway no comando do ataque. Em 2022, teremos o desgosto de abrir a temporada em um Monday Night Football contra os Broncos, dentro de casa contra o maior QB de nossa história. Apesar disso, não existem rivais que são absolutos. Quando os Broncos pisarem no Lumen Field e ver o barulho da torcida não há time que não trema. Vamos confiante que vai dar pra vencer.

GO HAWKS!