Draft Day – A história de Russell Wilson (parte final)

Chegamos na parte final dessa história de Russell Wilson. Até aqui contamos as passagens de DangerRuss desde o high school, passando pelo seu recrutamento por NC State, a sua saída não esperada de NC State, a sua ida à Wisconsin para seu ano senior e o primeiro contato com o Seattle Seahawks no Senior Bowl.

Leia também as outras partes:

Nasce uma estrela – A história de Russell Wilson (Parte 1)

A Saga Continua – A história de Russell Wilson (Parte 2)

“Você nunca jogará na NFL” – A História de Russell Wilson (Parte 3)

“From a Whole Pack of Badgers” – A História de Russell Wilson (Parte 4)

“Cara, esse é o time que eu quero jogar” – A história de Russell Wilson (Parte 5)

Depois do Senior Bowl, é hora de pensar 100% no draft da NFL, porém algo ameaçava sua ida para NFL. Algo que durante toda sua carreira atormentou e sempre fizeram com que muitos não acreditassem em Russell Wilson: a sua altura.

Era o que a maioria dos analistas enxergavam dele. Mesmo com um histórico recente de sucesso de Drew Brees que também era considerado baixo por ter 6-0, Wilson com 5-11 era considerado baixo demais e não era o suficiente para estar na elite dos QBs da NFL.

Além disso, tinha outro fator que influenciava na sua queda nos boards. Desde o draft de 2004, em que saíram Eli Manning, Phillip Rivers e Ben Roethlisberger, não havia tantas expectativas em relação à classe de QBs daquele ano de 2012. Entre 2004 e 2011, tirando algumas exceções, a maioria dos 19 QBs draftado na primeira rodada não empolgaram muito na NFL.

A classe de 2012, no entanto, era diferente. Era repleta de QBs interessantes, a começar por Andrew Luck. Os analistas da época diziam que desde Peyton Manning em 1998 não surgia um prospecto tão pronto para NFL como Andrew Luck. Sua capacidade de leitura de jogo, inteligência, precisão, força no braço impressionavam demais a todos os scouts. O hype sobre Andrew Luck era tão grande que torcedores de alguns times na temporada de 2011 como Miami Dolphins e St Louis Rams começaram uma campanha chamada Suck for Luck, querendo que seus times perdessem os jogos para que tivessem a primeira escolha geral, e assim draftassem Luck na primeira rodada.

Na disputa pelo título de melhor quarteback da classe tinha Robert Griffin III. Griffin tinha feito uma temporada absurda em Baylor e isso tinha lhe dado o Heisman Trophy da temporada de 2011. Griffin era uma ameaça dupla em campo. Griffin lançava a bola bem e era extremamente ágil correndo com a bola, sendo muitas vezes comparado com Michael Vick e muitos tinham ele até mesmo melhor que Vick. Com uma precisão e força no braço impressionante e que poderia elevar o nível de qualquer time que precisasse de um QB.

Além disso, havia alguns outros nomes que chamavam muita atenção como Ryan Tannehill, Brock Osweiler, Brandon Weeden, Case Keenum, Nick Foles. Todos esses nomes tinham mostrado potencial no college football e seriam draftados em algum momento. Tinha também, claro Russell Wilson. Porém, muitos não enxergavam Wilson nem dentro do top 100 prospectos daquele draft. Entre os QBs, raramente Wilson era citado entre os 5 primeiro quarterbacks daquele draft. Um exemplo, o top 10 do Bleacher Report era composto por esses nomes

https://bleacherreport.com/articles/1155485-2012-nfl-draft-ranking-the-10-best-quarterbacks

  • Andrew Luck – Stanford
  • Robert Griffin III – Baylor
  • Brandon Weeden – Oklahoma State
  • Ryan Tannehill – Texas A&M
  • Brock Osweiller – Arizona State
  • Kirk Cousins – Michigan State
  • Russell Wilson – Wisconsin
  • Nick Foles – Arizona
  • Ryan Lindley – San Diego State
  • J. Coleman – UT-Chattanooga

Sob a visão de outros especialista de draft segundo suas boards:

Gil Brand (NFL Network) – 112º

Matt Miller (Bleacher Report) – 102º

Walter Cherepinsky (Walter Football) – 127º

O Combine

Depois de não ter sido convidado para o Combine de 2011, no ano seguinte ele foi entre os QBs selecionados para estar em Indianapolis para participar dos drills do Combine.

Wilson impressionou com seu atleticismo, sendo o segundo QB mais rápido naquele Combine no tiro de 40 jardas com um tempo de 4,53 segundos, perdendo só para Robert Griffin. Na história do combine, esse é o 6º melhor tempo no tiro de 40 jardas empatado com Collin Kaepernick. Depois de mostrar seu potencial atlético, muitos times e analistas começaram a colocar Wilson no radar. Jon Gruden, hoje head coach do Las Vegas Raiders e que na época era analista da ESPN, disse que se fosse mais alto, certamente seria primeira rodada.

Draft Day

É chegado então o dia 26 de abril de 2012. Os torcedores dos times lotaram os arredores do Radio City Music Hall em Nova York para conhecerem quem seriam as novas aquisições dos seus times. Wilson, como era esperado, não iria até Nova York, afinal ele não era nem de perto cogitado na primeira rodada. A maioria o colocava a partir da terceira rodada. Apesar disso, Wilson estava confiante, afinal muitos times daquele draft precisavam de um QB. Entre esses os poucos times que não precisavam de QB estava o Seattle Seahawks.

Em sua história os Seahawks nunca tinham tido um quarterback de elite nível Hall da Fama. Jim Zorn, nosso primeiro QB tinha sido sólido e feito boas atuações, mas muito de sua produção é creditada à Steve Largent que é o melhor Wide Receiver da nossa história.

Outro QB sólido de Seattle foi Dave Krieg, que também teve bons anos ao lado de Steve Largent. Krieg foi Pro Bowler em 3 oportunidades na sua carreira jogando por Seattle entre 1980 e 1991. A posição de QB nos Seahawks ficou na mão de vários nomes e nenhum empolgando. Entre eles, 2 QBs de primeira rodada: Dan McGwire em 1991, Rick Mirer em 1993. Até que em 2001, Seattle faz uma das melhores jogadas naquele draft. Faz um trade down com os Packers, em troca de algumas escolhas e de um quarterback que viria a ser o starter pelas próximas 9 temporadas em Seattle: Matt Hasselbeck. Com a escolha de primeira rodada que recebeu dos Packers, Seattle ainda pegou Steve Hutchinson, um dos melhores guards da história da NFL.

Em Seattle, Hasselbeck se tornaria ídolo, levando o time a chegar no seu primeiro Super Bowl na temporada de 2005. Depois dos playoffs da temporada de 2010 (o mesmo ano do Beast Quake) era hora de renovar com Matt Hassellbeck. Porém, as partes não chegaram a um acordo e o QB assinou como free agent com o Tennessee Titans. Pete Carroll então assina com Tarvaris Jackson para ser o quarterback da temporada de 2011. Ao fim da temporada, Jackson teve 14 touchdowns e 13 interceptações e estava óbvio que Seattle precisava de um outro QB para levar esse ataque para frente. Foi quando começaram a especular que diante de uma classe com tantos nomes bons, Seattle poderia ir com alguém da posição nos primeiros rounds.

Nota : Tarvaris Jackson, infelizmente faleceu em abril desse ano em um acidente de carro. Ele era técnico de quarterbacks em Tennessee State. Descanse em paz Jackson…

Grande Perda: Tarvaris Jackson morre em acidente de carro

Porém, semanas depois Seattle assina um baita contrato de 3 anos com Matt Flynn com 9 milhões garantidos. Com essa contratação, Seattle tinha 2 QBs no elenco. Matt Flynn e Tarvaris Jackson, que apesar de não ser um grande QB, para ter como backup era suficiente.

A ideia da contratação de Matt Flynn era repetir a fórmula que tinha dado certo com Matt Hasselbeck em 2001. Pegar um QB que há alguns anos vinha sendo backup de um QB dos Packers e torná-lo um QB titular para levar a franquia à algumas vitórias na temporada.

Embora Seattle, “não precisasse” de QB, Pete Carroll e John Schneider eram impressionados com a habilidade de Russell Wilson. Como contamos no capítulo anterior dessa história, eles haviam se encontrado com Wilson no Senior Bowl e dito a ele que era um dos seus jogadores favoritos daquele jogo. Mas é claro que eles não poderiam demonstrar esse interesse no jogador pois algum time poderia capitalizar em cima disso tentando uma trade.

Passado o primeiro dia do draft, e como era esperado, Wilson não tinha havia sido escolhido. Naquela primeira rodada saíram 4 QBs:

1ª escolha – Andrew Luck – Indianapolis Colts

2ª escolha – Robert Griffin III – Washington Redskins

8ª escolha – Ryan Tannehill – Miami Dolphins

22ª escolha – Brandon Weeden – Cleveland Browns

Seattle faz um trade down com os Eagles e descem da escolha 12 para a 15 e selecionam o explosivo EDGE, Bruce Irvin para fortalecer a recém nascida Legion of Boom.

Começa o dia 2 começa e Seattle faz mais um trade down com os Jets e escolhem Bobby Wagner. No final da segunda rodada começa o nervosismo na sala dos Seahawks. Brock Osweiler, na escolha 57 é o primeiro QB selecionado do segundo dia. Ainda faltam 18 times para selecionar até chegar à próxima escolha dos Seahawks e desses 18 times, alguns deles ainda precisam de QBs. Entre eles: Texans, Bills, Jaguars e Chiefs são candidatos fortes para fazerem essa escolha. Texans selecionaram um WR na escolha 68. Em seguida é hora dos Bills no relógio. Nesse momento, o nervosismo toma conta da sala, esse era o principal time que poderia investir em Russell Wilson. Buffalo selecionam T.J. Graham WR que foi companheiro de Wilson em NC State. Na escolha 70 é a vez dos Jaguars no relógio, outro time com possibilidade de selecionar Wilson, mas eles resolvem ir com Bryan Anger, um punter. Para dar mais uma emoção final, na escolha 74, Kansas City Chiefs no relógio, outro time que precisava de QB, mas eles vão com Donald Stephenson, offensive tackle. John Schneider puxa o telefone e liga para Russell Wilson: “Nós vamos com você!”. Momentos depois, um soldado da Marinha Norte Americana sobe no palco do Radio City Music Hall e anuncia:

“COM A 75ª ESCOLHA DO DRAFT DE 2012, SEATTLE SEAHAWKS SELECIONAM: RUSSELL WILSON-QUARTERBACK-WISCONSIN”

Momentos depois, Andy Reid liga para John Schneider e diz: “Parabéns pela escolha, era a próxima que eu iria fazer.”

Passado o draft, muitos criticaram Seattle por ter selecionado Wilson cedo demais sendo que nem precisavam de um QB, que Bobby Wagner também tinha sido cedo e que não deveria ter saído logo na segunda rodada.

Essa série nossa termina aqui. É claro que tem muita história para ser contada a respeito do #3 de Seatte. Afinal depois disso, já nos training camps ele já superou Tarvaris Jackson e Matt Flynn e assumiu o posto de QB titular, levou o time aos playoffs e a vencer uma partida de playoff no seu primeiro ano, e até hoje ainda detém o record de maior rating de um rookie em partidas de playoffs. Nas 2 temporadas seguintes, ele leva o time a chegar ao Super Bowl e a vencer um deles.

O que eu quis mostrar com essas histórias, o quão gigantes é o nosso baixinho. Desde o high school sendo subestimado pelo seu tamanho e com as faculdades querendo que ele fosse defensive back no lugar de quarterback. A morte de seu pai no dia em que foi draftado pelo a MLB. Em NC State, sendo negado para seu último ano, a volta por cima em Wisconsin. A queda no draft de 2012 que é lembrada até pelo Eminem na música “The Monster”.

Russell Wilson se tornou uma das grandes referências da minha vida. Muito além do jogador que ele é, mas sim pela sua personalidade. Pela sua liderança, pelo exemplo e por sua espiritualidade.

Para finalizar a série quero deixar uma pequena parte do discurso que ele fez em 2016 para os formandos de Wisconsin:

“Quando a vida lhe disser um ‘não’, encontre uma forma de manter as coisas em perspectiva. Isso não torna os momentos dolorosos menos dolorosos, mas isso significa que você não tem que viver com essa dor para sempre. Porque se você é sabe do que é capaz, se está sempre preparado e mantém as coisas em perspectivam, então a vida tem um jeito de transformar um ‘não’ em sim. […]. Eu diria para você ‘boa sorte’, mas eu não acredito em sorte. Vai lá e faça acontecer!! Essa é a minha história! Agora é hora de vocês escreverem suas próprias”

Discurso Completo aqui (em inglês):

https://www.espn.com/blog/seattle-seahawks/post/_/id/19957/russell-wilsons-commencement-speech-at-wisconsin

GO HAWKS!

8 Replies to “Draft Day – A história de Russell Wilson (parte final)”

  1. desde de a minha primeira temporada acompanhando e torcendo pros seahawks, eu sabia que o russel wilson era fora da curva, o cara na segunda temporada dele ganhou o superbowl tendo um papel crucial, pra mim quem fala ” aah tinha o Lynch, a lob… ” é um baita de um sem visão. o wilson sempre foi avançado diferenciado, o cara novinho recem chegado a nfl ouvia música classica antes dos jogos ele sempre teve uma mente avançada e diferente da de muitos… pra mim sem dúvidas é um dos maiores atletas e pessoa que eu já vi.

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